Saiu recentemente nova edição do brilhante livro de Charlotte Perkins Gilman, Terra Delas, nos Penguin Clássicos, depois de uma edição pela Sibila, disponível há já algum tempo.
Este livro traz-nos uma utopia (com alguns traços distópicos discutíveis no final do livro) feminista. Conta a história de uma comunidade matriarcal, há dois milénios composta apenas por mulheres que se reproduziam através da partogénese, presente também em algumas espécies na natureza. Cada mulher dava à luz cinco filhas e a partir daí as mulheres foram-se multiplicando. O mais interessante nesta história é que aquilo que três homens vão encontrar quando decidem procurar esta comunidade é um mundo perfeito, com uma sociedade totalmente equilibrada, harmoniosa mas que podemos facilmente perceber que não é por serem só mulheres (se acreditamos que a socialização do nosso género é fruto de um sistema patriarcal e não se define por critérios meramente biológicos então seria estranho afirmar que o mundo perfeito deste livro vinha do facto de se ter excluído o género masculino) mas por terem conseguido, desde o primeiro momento, por opção das primeiras “mães”, abolir qualquer espécie de hierarquia e de poder. É na ausência do poder que poderemos encontrar a nossa utopia.
Este livro é um livro imenso, junta teorias naturalistas, defende uma política de maternidade social e partilhada (“é preciso uma aldeia…”), mostra que a dieta vegetariana é ela própria um combate à exploração do outro, defende o tratamento horizontal de humanos, animais e natureza, afirma a possibilidade de um sistema político sem classes. Ao mesmo tempo, de forma mais escondida, mostra os perigos de querermos e podermos controlar a nossa sociedade abolindo a diferença, definindo um conceito de normalidade.
Tudo isto em 1915.
Com edição de Eurídice Gomes para os Penguin Clássicos, tradução de Madalena Caramona (Caixa Alta) revisão de Rita Almeida Simões e prefácio de Tânia Ganho (um leque de grandes mulheres). Junta um outro livro, Papel de Parede Amarelo, um livro de que falarei numa próxima vez.

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